espera
não feches o armário
ando à tua procura
onde é que estás?
na cruzeta azul?
mas estas são todas vermelhas
e só têm os teus fatos
nunca percebi porque precisas de tantos
todos novos
praticamente a estrear
espera
não feches o armário
ando à tua procura
deixa-te de brincadeiras
onde é que te puseste?
na gaveta da direita?
aqui só encontro os cachecóis e as luvas
que usas desde outubro no início do frio simples
até aquela nuvem branca de maio
espera
não feches o armário
ando à tua procura
na caixa por cima de tudo?
aqui estás
o teu sorriso e o teu olhar
os que vestes quando sais para mim
espera
não feches o armário
ando à tua procura
do teu corpo todo
não
não feches o armário
não me deixes só dobrada escura e engomada
na proporção de infinitas chávenas de café para uma de consciência violenta
a aranha tece princípios de creme e de espessura quente
em posições radicais um outro alguém passa à desordem
no sítio necessário à ausência de querer mais
sabe a queimado o que ardeu na distância desse sorriso aberto um dente para lá do saudável
o olhar deriva dos tições em brasa para um peito só de fios e buracos
palavras torradas no instante da agresão calada
gelo que nasce na ilusão que a teia é