cabelo vermelho de paixão

idas ao cromatógrafo

terça-feira, outubro 24, 2006

 

fado tóxico

Parti sem conhecer o passado. Esqueci-me dele enquanto mergulhavas na espuma. Submergias inteira quando saí à socapa no vapor de água que subia os azulejos num bouquet de frutas tropicais. Aromas de sabonete e champô flutuavam num doce calor húmido e junto a ti, um pau de incenso consumia-se num contraste de fumo espesso e lento. Trazias sempre cheiros intensos das viagens à terra mãe.

Quando ontem me procuraste, despertei de um sono antigo de muito tempo. Demasiado longo talvez. Quando foi? Há quanto tempo fugimos os dois? Sem carimbos no passaporte, a olhar as estrelas e a desejar ser abraçados pela estrada?

Continuas a morar aqui, no local mais vibrante do planeta. Para mim o que foi o único sítio do mundo e para todos os outros o nº 30 da Rua da Gaveta. Engraçado como a chave entra facilmente na fechadura oxidada e faz accionar na perfeição as molas do velho canhão. O mecanismo é o mesmo e os nossos também virão a revelar-se assim, gastos, oleados mas ainda os mesmos um no outro. Os anos e os muros ganharam cores esbatidas e algumas rachadelas. Na varanda do teu quarto, a pequena buganvília cresceu e agora abraça toda a fachada num gesto terno de protecção. Ela nunca te abandonou.





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