cabelo vermelho de paixão

idas ao cromatógrafo

segunda-feira, setembro 11, 2006

 

nível zero

julguei ser mais.
durante anos pensei existir em mim,
crescer e envelhecer
mas descobri que afinal sou um simples pelo.
um cabelo vermelho caído da nuca para o chão,
e que tudo o resto és tu.

os músculos que me transportam,
os orgãos vitais e outros,
o sistema linfático.
tudo em mim és tu.

o momento em que acordo
e quando sonho,
aquele passeio que dou
e quando regresso a casa.
tudo isto és tu.

eu vou ondulando,
caído aos teus pés.

no meio dos outros sou vermelho,
desta cor que me trai
e me julga apaixonado

mas eu não sou paixão,
eu nem gosto de ti.
és mais uma que anda por aí

sim.
sou vermelho e depois?
nota-se assim tanto?

quando o vento vem
e brinco agarrado a ti
e me rio
sou como o fio de um regato no verão,
fresco quando te toco
a beijar a margem
e me sugas a razão

de manhã olhas-te ao espelho
e eu estou lá
mas nem me falas porque
não se fala com o cabelo,
toda a gente sabe.
e acima de tudo és zelosa dos trâmites sociais
e nunca irias dirigir-te a um pelo.

quanta vergonha
e se algém notasse?
ou imaginasse?...

mas um dia destes,
quando me vires,
podes puxar-me
sacar a raíz e levar-me contigo





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