no dia do início,
suspensos numa pachorra morna,
sorríamos.
naquele sítio estranho,
sem minutos,
nem horas,
tinhamos todo o tempo
mas nem mais um segundo.
olhaste-me suavemente
e nesse momento
ateou-se o rastilho do mundo.
o tempo arrancou.
em matéria projectada e
numa amálgama em expansão
fomos atirados numa órbita dispersa
para fora do nada
perdi-te,
e desde então
busquei-te em negros buracos,
em constelações estranhas.
ouvi dizer que eras antimatéria animal,
barro celestial e até um cartucho,
daqueles de papel jornal em que se vendem castanhas assadas.
isto até te encontrar,
na forma voluptuosa de um quartzo pedra rosa.
agora trago-te comigo
e dormes na minha mão.
um dia vamos mudar de forma outra vez
e quem sabe,
num misterioso sincronismo,
voltemos ao mesmo vácuo
à mesma pachorra
ao mesmo sorriso